RESGATANDO O EU DESERDADO
Muitas pessoas não encontram o seu dom divino porque evitam procurar nos lugares mais fora do vulgar. Um desses lugares é a nossa Sombra, o lugar onde despejamos todas as características da nossa personalidade que não gostamos e deserdamos. Estas partes deserdadas são incrivelmente preciosas e não podem nunca ser postas de parte. Aceitar e honrar a nossa sombra é uma arte profundamente espiritual. Conduz-nos de volta à totalidade que sempre fomos, tornando-se assim na experiência mais sagrada da nossa vida.
Existe em cada um de nós uma persona – a soma das partes que gostamos que os outros vejam em nós. É como a nossa roupa psicológica e é a mediadora entre o nosso eu verdadeiro e o ambiente em que nos encontramos, da mesma maneira que a roupa que trazemos no corpo representa uma imagem de quem somos. O ego é quem nós somos e conhecemos conscientemente. A sombra é a parte de nós que não conseguimos ver nem conhecer conscientemente.
Todos nascemos completos e, com algum cuidado, todos morreremos completos. Algures nos primeiros anos de vida comemos o fruto proibido, separamos as coisas em boas e más, e damos início ao processo de construção da sombra. Neste processo cultural separamos todos os aspectos divinos que possuímos em aceitáveis e inaceitáveis. E escondemos os inaceitáveis.
Este processo é maravilhoso e necessário, caso contrario não teríamos uma civilização educada e respeitadora. Mas as características que rejeitamos e não aceitamos em nós não desaparecem: limitam-se a amontoar-se nos cantos mais escuros da nossa personalidade. Quando já não suportarem serem ignorados, ganham uma vida própria – a vida da sombra.
A sombra é composta de todos os aspectos que não foram abraçados de maneira adequada pela consciência. É o quarto do nosso ser que repudiamos. Com frequência possui um potencial energético tão forte quanto o do nosso ego. Se por acaso acumula mais energia que o ego, explode como uma raiva descontrolada ou uma indiscrição que não conseguimos evitar. Ou então caímos numa profunda depressão ou sofremos um acidente sem qualquer motivo aparente.
Uma sombra com autonomia própria é um verdadeiro monstro a brincar com a nossa personalidade consciente. O processo educacional ocidental consiste em eliminar todas as características que possam ser perigosas ao todo que é a sociedade em que estamos inseridos. Apesar de nascermos completos, a cultura onde estamos inseridos exige que vivamos apenas uma parte da nossa natureza e rejeitemos a outra parte da nossa herança divina.
A cultura rouba-nos do humano verdadeiro em nós, mas ao mesmo tempo, dá-nos um poder mais complexo e sofisticado.
EMÍDIO CARVALHO
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